Cansado das deambulações noctívagas, dos encontros fortuitos nas ruas escuras, para apreciar rabos com gosto conhecedor, regresso a casa, saciado e envergonhado por esta minha necessidade diária.
Entro sem fazer barulho, subo até ao quarto, mas estranho imediatamente a quietude excessiva, a ausência de respiração vinda da cama. Encontro a tua roupa desalinhada sobre a cadeira, os teus sapatos, mas faltas tu e o teu pijama, os chinelos e o roupão de trás da porta da casa de banho.
Chamo-te, timidamente, primeiro, com convicção e a plenos pulmões depois, por toda a casa, apenas para confirmar o que pressenti ao entrar no quarto - que não estavas.
É então que a vergonha dá lugar a um sentimento de culpa insuportável. Se não tivesse saído, se não fosse esta minha necessidade inelutável de sair todas as noites quando vais deitar-te, se não fosse a tua compreensão, talvez ainda estivesses aqui.
Percorro novamente a casa em busca de indícios que me digam onde poderás ter ido, mas a casa persiste no silêncio. Esgotado, volto para o quarto, puxo pela camisola que deixaste na cadeira e levo-a para a cama. Enrosco-me nela, sentindo o teu cheiro nos punhos e na gola, o teu odor inconfundível.
Do meu canto da cama, recordo ou sonho, já não sei, os nossos passeios no Gerês, os banhos no mar revolto, as refeições partilhadas, as noites invernosas aquecidas pelo lume da lareira, as idas ao café, onde me exibias, orgulhoso, perante os vizinhos.
Acordo com passos bruscos no corredor. Homens fardados irrompem no quarto e agarram-me sem cerimónia. Insensíveis aos meus protestos, arrastam-me escadas abaixo e metem-me numa carrinha. Não consigo perceber por que razão me levam. E se regressas? E se precisas de ajuda? Como poderei socorrer-te estando preso?
Quase rouco de tanto pedir que me soltem, deixo-me escorregar para um canto da carrinha. Oiço os homens a conversarem. Comentam que te levaram ontem à noite metido numa camisa de forças. uma denúncia dos vizinhos, por causa da tua estranha relação comigo, desse entendimento contra-natura entre um dono e o seu cão.
Entro sem fazer barulho, subo até ao quarto, mas estranho imediatamente a quietude excessiva, a ausência de respiração vinda da cama. Encontro a tua roupa desalinhada sobre a cadeira, os teus sapatos, mas faltas tu e o teu pijama, os chinelos e o roupão de trás da porta da casa de banho.
Chamo-te, timidamente, primeiro, com convicção e a plenos pulmões depois, por toda a casa, apenas para confirmar o que pressenti ao entrar no quarto - que não estavas.
É então que a vergonha dá lugar a um sentimento de culpa insuportável. Se não tivesse saído, se não fosse esta minha necessidade inelutável de sair todas as noites quando vais deitar-te, se não fosse a tua compreensão, talvez ainda estivesses aqui.
Percorro novamente a casa em busca de indícios que me digam onde poderás ter ido, mas a casa persiste no silêncio. Esgotado, volto para o quarto, puxo pela camisola que deixaste na cadeira e levo-a para a cama. Enrosco-me nela, sentindo o teu cheiro nos punhos e na gola, o teu odor inconfundível.
Do meu canto da cama, recordo ou sonho, já não sei, os nossos passeios no Gerês, os banhos no mar revolto, as refeições partilhadas, as noites invernosas aquecidas pelo lume da lareira, as idas ao café, onde me exibias, orgulhoso, perante os vizinhos.
Acordo com passos bruscos no corredor. Homens fardados irrompem no quarto e agarram-me sem cerimónia. Insensíveis aos meus protestos, arrastam-me escadas abaixo e metem-me numa carrinha. Não consigo perceber por que razão me levam. E se regressas? E se precisas de ajuda? Como poderei socorrer-te estando preso?
Quase rouco de tanto pedir que me soltem, deixo-me escorregar para um canto da carrinha. Oiço os homens a conversarem. Comentam que te levaram ontem à noite metido numa camisa de forças. uma denúncia dos vizinhos, por causa da tua estranha relação comigo, desse entendimento contra-natura entre um dono e o seu cão.
5.11.2008
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